Do mundo VUCA ao mundo BANI – O que mudou?

Esses dois termos foram criados para explicar a turbulência de seu tempo, desde um mundo pós-guerra fria até a pandemia de coronavírus.

Continue lendo para descobrir exatamente o que é VUCA, como ele deu lugar ao Bani e como as empresas podem se preparar para o estado em que se encontra o mercado de negócios.

O que é um mundo VUCA?

No período pós-guerra fria, este conceito foi desenvolvido inicialmente pelo exército norte-americano para descrever as transformações sociais ocorridas e como os militares deveriam agir diante de possíveis conflitos.

No mundo empresarial, o termo VUCA tornou-se popular nos anos 2000, precisamente quando ocorreram mudanças tecnológicas significativas, nomeadamente a invenção e disseminação da internet.

É um modelo que explica o rompimento e é amplamente utilizado no mundo dos negócios.

Ele representa um conjunto de desafios que indivíduos, equipes, gerentes e organizações nos setores afetados precisam enfrentar.

O acrônimo significa:

• Volatility: volatilidade
• Uncertainty: incerteza
• Complexity: complexidade
• Ambiguity: ambiguidade

Esses termos representam fatores que tornam uma situação ou condição difícil de analisar, responder ou planejar.

Compreender como mitigar esses fatores pode melhorar muito as habilidades estratégicas de um líder e levar a melhores resultados.

Volatilidade

É a qualidade de estar sujeito a mudanças frequentes, rápidas e significativas. Pequenos gatilhos podem resultar em grandes mudanças.

Em um mercado volátil, por exemplo, os preços das commodities podem subir ou cair consideravelmente em um curto período de tempo, e a direção de uma tendência pode se inverter repentinamente.

Incerteza

Ocorre quando eventos e resultados são imprevisíveis. A causa e o efeito não são bem compreendidos e a experiência anterior pode não se aplicar à situação.

Não está claro para qual direção os eventos irão. Em um mercado incerto, por exemplo, não está claro se o preço vai subir ou descer ou em quanto.

Complexidade

Envolve múltiplas questões e fatores, alguns dos quais podem estar intrinsecamente ligados.

As relações entre itens e pessoas são difíceis de entender. Uma variação em um lugar pode causar mudanças não intencionais em outras coisas no futuro.

Causa e efeito são obscurecidos por muitas camadas, e não está claro quais fatores são importantes no processo de tomada de decisão.

Em um mercado complexo, por exemplo, as mudanças nos preços da gasolina afetam os preços de muitos outros itens que não estão diretamente relacionados.

Ambiguidade

É formada pela falta de clareza e dificuldade em entender exatamente qual é a situação. As informações podem ser mal interpretadas.

Durante situações ambíguas, nem todos os fatos são claros. O objetivo ou resultado pretendido pode não ser evidente para todas as partes envolvidas.

Em um mercado ambíguo, por exemplo, nem todas as informações são públicas e fatores desconhecidos podem estar afetando os preços.

As seguintes perguntas podem ser usadas em um exercício de pensamento para identificar o VUCA em uma determinada situação:

Volatilidade

• Quais são os valores mais altos e mais baixos possíveis que podemos esperar?
• Quão rápido esses valores podem mudar?
• Que quantidade de mudança podemos absorver antes que ela nos afete negativamente?

Incerteza

• O que pode mudar?
• Quais são os possíveis sinais de mudança?
• Saberemos quando as coisas mudarem?
• Com que rapidez podemos responder a uma mudança?

Complexidade

• Quão bem entendemos as estruturas envolvidas?
• Como esses itens estão interligados?
• Qual é a nossa capacidade de parar uma reação em cadeia ou falha em cascata?

Ambiguidade

• Qual é a nossa visibilidade dos fatores internos e externos?
• Qual é a possibilidade de mal-entendidos e confusão?
• Como as orientações podem ser emitidas com mais clareza?
• O que significa que mais informações são necessárias antes de tomar uma decisão?

Do mundo VUCA ao mundo BANI

O que fazia sentido ontem pode não fazer tanto sentido hoje.

Nesse meio tempo, a cultura corporativa mudou drasticamente e tornou-se cada vez mais essencial enfrentar um novo desafio que se aproximava.

Nesses tempos em que a digitalização se disseminou, adaptamos novos conjuntos de habilidades e ferramentas para acompanhar a mudança e capturar sistemas complexos.

Como modelo explicativo, o ambiente VUCA não é mais suficiente para entender os novos padrões de negócios, os desafios atuais para as empresas e também para a sociedade como um todo.

Um novo modelo de pensamento é necessário para lidar com um mundo em mudança. É aqui que o conceito BANI entra em cena.

O que é BANI?

O conceito VUCA foi utilizado basicamente para dar sentido às incertezas em um mundo cada vez mais interconectado e digital, onde as mudanças eram constantes.

No entanto, a pandemia de covid-19 criou um cenário que fez até o VUCA parecer um descritor insuficiente.

Assim, surgiu uma nova sigla: BANI.

Criado pelo antropólogo, autor e futurista americano Jamais Cascio, o termo considerava as mudanças trazidas pela pandemia.

O acrônimo significa:

• Brittle: frágil
• Anxious: ansioso
• Non-Linear: não linear
• Inconprehensible: incompreensível

Frágil

Frágil substitui volatilidade. Nosso mundo não é apenas volátil.

Descobriu-se que a mudança rápida é um grande problema, especialmente quando o sistema é inflexível.

Frágil é exatamente a palavra certa para descrever essa condição: um sistema quebradiço geralmente parece muito estável, mas se quebra ao longo do tempo, principalmente de forma inesperada.

As consequências de um sistema tão frágil são agravadas pelo fator surpresa.

Um sistema frágil pode dar a impressão de que é forte e robusto, mas um ponto crítico de falha pode levar a um colapso repentino com consequências devastadoras.

Isso é causado por dois fatores:

• A busca incansável do lucro e da maximização da eficiência que vem à custa de outros fatores igualmente importantes

Isso é muitas vezes esquecido pelas organizações e seus executivos.

Assim, por exemplo, a falta de relações com os funcionários pode levar à escassez de trabalhadores qualificados, o que, por sua vez, torna o sistema frágil de dentro para fora.

É nesse ponto que a inteligência emocional e mais empatia da empresa desempenham um papel importante nas organizações estruturadas.

• A incapacidade de suportar fatores frágeis dentro de uma organização

Essas lacunas no sistema são muitas vezes ignoradas, intencionalmente ignoradas ou não podem ser remediadas devido à falta de habilidades e conhecimentos.

Um mundo cada vez mais interconectado significa que um sistema frágil pode ter enormes consequências.

Uma falha de uma estrutura importante pode levar a toda uma série de falhas.

Ansioso

A ansiedade reflete a incerteza. Envolve o medo de que algo significativo possa romper a qualquer momento.

A ansiedade é uma forma de salvaguardar a segurança. Um sistema incerto, portanto, pode gerar grande ansiedade.

Um mundo ansioso leva a uma atitude passiva. A ansiedade faz com que nos tornemos mais avessos ao risco, o que influencia a capacidade de uma pessoa funcionar em um contexto individual ou empresarial.

Esse medo da ação também pode se transformar em um sentimento constante de desespero, o que influencia negativamente no processo de tomada de decisão.

Além disso, nossa mídia fala em uma linguagem específica que é projetada para promover o medo.

Ler notícias positivas está se tornando cada vez mais difícil. Recebemos toneladas de notícias ruins ou falsas.

Más notícias ou postagens relacionadas não deixam muito espaço para positividade, mas, em vez disso, promovem constantemente novos sentimentos de ansiedade.

Não linear

A não linearidade não é uma continuação, mas um acréscimo à complexidade.

A razão é simplesmente que os sistemas em que vivemos e trabalhamos são extremamente complexos.

Isso significa que nesses sistemas complexos, a ligação entre causa e efeito nem sempre é dada.

Além disso, as medidas tomadas não podem ser vinculadas ao resultado de forma reconhecível ou previsível.

Grandes esforços não mostram nenhum efeito ou pequenas decisões têm um impacto enorme.

Tomemos o aquecimento global como exemplo: o período entre causa e efeito é tão grande que mal podemos compreender a conexão.

Mesmo que parássemos os sintomas mais presentes a partir de hoje, os efeitos no clima não seriam sentidos imediatamente, mas sim por gerações inteiras depois de nós.

Incompreensível

Esse fator é, em última análise, a consequência do nosso mundo não linear e vai um passo além da ambiguidade.

O desenvolvedor do conceito BANI cita um exemplo do desenvolvimento de software.

Neste exemplo, há um código que não cumpre uma função explícita e seria, pelo menos em teoria, redundante.

No entanto, se você remover esse código, o programa trava ou não pode ser instalado em nenhum lugar. Não há explicação conclusiva.

A compreensão leva à orientação e à clareza, que é central em tempos de mudança. Além disso, diminui a surpresa, o que intensifica os efeitos subsequentes.

Uma crise, que não é totalmente imprevisível e que não nos surpreende, tem um impacto mais fraco sobre nós.

A compreensão, portanto, garante que possamos, pelo menos cognitivamente, dar um passo em direção à solução.

Quando algo não é compreendido por nós, tende a ser esmagador. A incompreensibilidade é um produto da enorme quantidade de informações de hoje ou da sobrecarga dessas informações.

O ponto positivo, no entanto, é que algo que não entendemos hoje não significa necessariamente que não possamos entender no futuro próximo.

Como as empresas podem se preparar para um mundo BANI?

Nesse contexto de fragilidade, uma ótima forma de se adaptar e crescer é fortalecendo suas equipes.

Buscar uma cultura de colaboração, adotar estruturas bem distribuídas e investir em treinamentos são ferramentas que podem ajudar a tornar sua organização mais resiliente.

A implementação de uma cultura de colaboração pode aumentar a comunicação e a transparência entre indivíduos, equipes, departamentos e filiais.

Lidar com a ansiedade requer mais empatia da empresa. O treinamento de funcionários em soft skills, que se tornarão cada vez mais essenciais nos próximos tempos, também pode ajudar.

Em um mundo não linear, planos rígidos tendem a ser um fardo para os negócios.

As empresas que não inovam e confiam apenas em métodos “comprovados” de fazer as coisas geralmente ficam atrás da concorrência e não conseguem se adaptar com rapidez suficiente às mudanças em seu ambiente.

Por outro lado, o mal-entendido pode ser resolvido simplesmente por meio do uso de tecnologias como Inteligência Artificial, Big Data e Data Science.

É exatamente por isso que categorizar incertezas com conceitos como VUCA e BANI é tão essencial.

Com essa nova compreensão dos principais desafios globais, podemos nos preparar melhor para o que está por vir.

Para que servem siglas como BANI e VUCA?

Mesmo o fundador da sigla afirma que as abordagens acima são mais reações do que soluções reais.

No entanto, essas criações de palavras podem nos ajudar a saber por onde começar. Além disso, nos permitem nomear o sentimento de incerteza e, assim, criar mais clareza. Clareza é muito necessária nestes tempos.

É certo que tudo vai mudar, pois os sistemas existem em todos os lugares: seja em nível estadual e econômico ou até mesmo na vida pessoal das pessoas e nas relações com amigos e familiares.

O BANI não orienta organizações em desenvolvimento. Não nos preparará para a mudança nem nos dará todas as respostas, mas pelo menos pode nos ajudar a entender.

Até que uma nova sigla seja necessária, podemos pelo menos sempre contar com uma citação, que já tem mais de 2500 anos: “A única constante na vida é a mudança – Heráclito”.

Desafios para a renovação

É difícil prever se o mundo vai progredir da maneira definida pelo BANI ou se a sigla vai cair em desuso ou perder seu significado à medida que diferentes cenários evoluem ou retrocedem, dependendo de nossos pontos de vista.

É muito cedo para fazer previsões.

No entanto, independentemente dessa discussão, é fundamental refletir sobre as oportunidades e lições que podemos extrair dos novos panoramas que aparecem em nosso Novo Normal.

Em meio ao diagnóstico de tantos sentimentos negativos e desafiadores, alguns caminhos alternativos foram descobertos, principalmente pelos líderes dos diversos setores da sociedade.

Entre os “antídotos” estão a empatia e a preocupação com o todo, para todos nós.

Em outras palavras, uma consciência de que muitas das ansiedades e preocupações do mundo BANI não são puramente individuais.

A nova visão de propósito corporativo nas empresas, voltada para todos os seus stakeholders, agora está presente em várias iniciativas e é uma resposta a esse mundo BANI.

É necessário passar de um mundo baseado apenas em objetivos materiais para um mundo muito mais consciente do bem-estar das pessoas.

O tempo nos dirá se o conceito BANI terá vida curta ou não. Mas já podemos ver que um número crescente de mudanças radicais está em andamento.

É necessário resiliência para enfrentar este novo mundo BANI, que parece ser mais frágil. No caso da ansiedade, será possível avançar exercendo maior empatia.

A falta de linearidade pode ser compensada por mais flexibilidade e antecipação. E nada melhor do que transparência e sinceridade para lidar com a incompreensão.

Todos os caminhos estão abertos para essas oportunidades e não há respostas prontas. Uma conclusão é clara: nosso presente não poderia ser melhor para a mudança.